quinta-feira, 29 de maio de 2008

Zumbizada de Romero

George Romero está de volta este ano e lançou seu quinto (e não último) filme de Zumbis. Para quem esperou o filme ser lançado no cinema brasileiro assim como eu, foi surpreendido pela notícia de que o filme não passaria por aqui. Por sorte ele foi disponível para download com legendas em português. Não esperei nem um segundo quando trouxeram o dvd aqui em casa e imediatamente corri para a frente da TV, com uma expectativa que não tinha desde que estava na fila do cinema na estréia de seu quarto filme, “Cidade dos Mortos”, a exatamente 3 anos atrás. Nesse dia lembro-me de ter saído do cinema feliz da vida. Romero tinha novamente produzido uma obra prima que não deixava nem um pouco a desejar para os seus filmes de 30 anos atrás.

Como fã do diretor e do gênero, acompanhei todas suas produções desde o começo, e compreendi que todos os seus cinco filmes foram apresentados cada um com um fundo sócio-político do período, e as histórias foram coordenadas de modo a nos dar a idéia de que os eventos apresentados em cada filme estão todos correlacionados.


Em 1966, o diretor lança “A Noite dos Mortos Vivos”, quando os mortos voltam à vida movidos pelas armas químicas que estavam sendo desenvolvidas no período da guerra fria. Neste momento, Romero narra sua crítica aos acontecimentos do Vietnã.



Alguns anos depois, o diretor retorna para produzir seu segundo filme da série, que se passa mais ou menos na mesma época que historia do primeiro. “Despertar dos Mortos” (meu preferido de todo a série) conta a história de alguns sobreviventes que se refugiam dentro de um shopping center, cenário utilizado para as críticas do consumismo exagerado de nossa sociedade.


Em 1985, o terceiro e menos popular é lançado pelo diretor. Aqui, a história acontece alguns anos após a terra ser completamente dominada por zumbis, e alguns poucos sobreviventes tentam desenvolver uma cura enquanto vivem num abrigo subterrâneo de Miami. Apesar de não ter feito muito sucesso, neste filme nos é apresentado o Bud, zumbi mais esperto que os demais e que consegue interagir com humanos. Um dos personagens mais famosos do gênero, até hoje é escolhido como o zumbi preferido dos fãs.


Vinte anos depois, quando se pensava que o diretor já tinha aposentado seus filmes de zumbis, ele reaparece com o quarto e ótimo “A Cidade dos Mortos” cuja história continua a partir do terceiro. Nessa nova trama, os sobreviventes do holocausto já se reorganizaram dentro de cidades isoladas, e o que se nota é que a sociedade reproduziu-se da mesma maneira que antes: capitalista, cheia de desigualdades, sexisismo e exploração. Mas o diretor foi mais longe nessa história quando seus zumbis começam a criar consciência de que eram massacrados, e iniciam juntos uma marcha rumo à cidade. Alguns fãs mais rigorosos não curtiram muito a idéia, mas vale lembrar que o Bud, personagem do terceiro, já apresentava sinais de evolução. Acredito que este era o quarto passo a ser dado pelo diretor, que aproveitou para criar uma das melhores metáforas para consciência de classes já feita.


Em 2007, o diretor retorna ao gênero e nos apresenta “Diário dos Mortos”, com uma crítica mais atual do que nunca. Antes de assistir ao filme li várias críticas de fãs dizendo que este era o mais fraco de toda a série, mas permaneci otimista e fiel ao bom gosto do diretor. Após assistir duas vezes (fiquei preocupada quando na primeira quase peguei no sono) consegui chegar a mais amarga conclusão: o filme é fraco, fraco, e fraco. O elenco é tão ruim que não consegui tirar da cabeça a sensação de que estava assistindo um filme para pré-adolescentes. Nessa nova história, que se passa bem no início da infestação, um grupo de estudantes de cinema descobre que os mortos estavam voltando à vida e partem de carro ao encontro de suas famílias. No meio do desespero, um dos caras tem a idéia de sacar uma câmera e sair filmando os acontecimentos e publicar simultaneamente no YouTube, para que pessoas do mundo todo pudessem assistir em suas casas. Daí o que temos é uma produção inteirinha filmada em primeira pessoa, mas surpreendentemente bem executada e editada pelo diretor.

O que se pretendia mostrar aqui é o novo fenômeno midiático em que nos encontramos, a recente obsessão pela informação rápida e nem sempre confiável que vemos na internet, a geração movida à imagem e não ao conteúdo, o fenômeno de massas. Frases do tipo “Quando há um acidente as pessoas param para olhar, e não para ajudar”, “Se não foi filmado é porque não aconteceu” ou a melhor de todas “ No meio de tantas vozes, torna-se mais difícil encontrar a verdadeira”, referindo-se ao bombardeio de informações que acessamos todos os dias de nossas casas. O conceito é legal e bem abordado, mas tudo isso é abafado pelas más interpretações e situações previsíveis. Nem as cenas de gore muito bem elaboradas salvaram o dia.

Diante deste triste fim, só me resta aguardar que o velhinho viva o suficiente para finalizar sua criação com chave de ouro.

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